março 07, 2010

Exmo Sr Presidente da CML

Tem alguma ideia sobre quando será possível aos cidadãos com mobilidade reduzida terem acesso ao rio, ao longo dos mais de 8 kms entre o Cais do Sodré e Algés?
É que, sabe, não há um único!


Ver mapa maior

março 04, 2010

Cristianismo e Arte (II)

Ainda há dias os anjinhos choravam, não por milagre, mas porque a água que escorria do tecto da Igreja de S. José dos Carpinteiros lhes caía em cima.

Embora lhes tenham já sido enxugadas as lágrimas, falta cuidar!


fevereiro 28, 2010

Câmara fez vistoria à Igreja de S. José dos Carpinteiros

Câmara fez vistoria à Igreja de S. José dos Carpinteiros

T.R. in jn, 27-02-2008

Técnicos da Direcção Municipal de Conservação e Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa fizeram, anteontem, uma minuciosa vistoria à igreja de S. José dos Carpinteiros e à Casa dos 24, em Lisboa, cujas instalações se encontram muito degradadas.

Em causa estão as infiltrações e fissuras existentes naquele edifício do século XVI, classificado como imóvel de interesse público. Dentro de vários dias, será feito um relatório sobre a situação, que poderá dar origem a obras de salvaguarda da igreja.

A vistoria foi feita a pedido do Grupo de Amigos da Igreja de S. José dos Carpinteiros, que está a reunir fundos para reabilitar o templo, através de donativos e da organização de eventos.

A vistoria dos técnicos da Câmara coincidiu com uma visita de elementos dos museus do Azulejo e de Arte Antiga, e ainda com a retirada da Imagem da Senhora da Fé, que estava a ser fortemente atingida com infiltrações de água e de queda de pedaços de talha.

O Grupo de Amigos pretende que estas entidades procedam a uma "intervenção com carácter de urgência no sentido de ser colocada uma cobertura provisória na Igreja e "Casa dos 24", evitando maiores perigos e danos". Entendem ainda que "deverão ser realizadas obras nos dois edifícios que incluam a reparação integral das coberturas, algerozes, tubos de queda, estancando a sua degradação, travando a entrada de águas pluviais e resolvendo os problemas de outras infiltrações e humidades. Para dia 8, está marcada uma visita da Comissão de Acompanhamento da Cultura da Assembleia Municipal.

fevereiro 27, 2010

Cristianismo e Arte

Quatro artistas na Capela do Rato

Por António Marujo, in Público - 27-02-2010

Desde ontem, a Capela do Rato foi invadida pelo projecto Arte Contemporânea e Sagrado. Tudo partiu de um convite do padre Tolentino Mendonça




Há um artista plástico inspirado pela poesia, o deserto e a música, um compositor a criar uma missa para uma função cívica. E ainda uma artista que trará um Anjo de Berlim e uma outra que talvez crie uma árvore da vida. Há ainda um padre que desafiou todas estas pessoas e uma galerista que os pôs a todos à conversa. Na Capela do Rato, em Lisboa, o espaço religioso converte-se em lugar de instalação artística.

O projecto Arte Contemporânea e Sagrado foi inaugurado ontem à noite com a instalação da obra Quando o Segundo Sol Chegar, de Rui Moreira. O desenho ficará exposto até princípio de Maio, quando será substituído por uma obra de Gabriela Albergaria. No final do ano, coincidindo com o tempo litúrgico do Advento, será expostoAnjo de Berlim, de Lourdes Castro. E a 23 de Maio, uma missa de Pentecostes, composta por João Madureira, terá a sua estreia na capela, cantada pelos Sete Lágrimas. A iniciativa ficará registada num livro a ser editado no final do ano pela Assírio & Alvim.

A ideia nasceu do padre José Tolentino Mendonça e de um "núcleo curatorial" que a ele se agregou - entre outros, a galerista Vera Cortês. Responsável pela Capela do Rato, o poeta, autor do recente e já premiado O Viajante Sem Sono, quis que a tradição de diálogo daquele espaço religioso se renovasse: "A capela foi um espaço de diálogo entre a fé e a democracia, entre a consciência cristã e a causa da justiça e da paz, entre a liturgia e a busca de novas linguagens celebrativas", diz ao P2.

O projecto - que poderá continuar, depois deste primeiro conjunto de obras e artistas - "nasce da consciência cada vez mais forte na comunidade eclesial de que a Igreja precisa de se reencontrar com a dimensão da beleza e da estética". Um objectivo a que o próprio Papa Bento XVI se referiu, no recente encontro com artistas, no Vaticano, em Novembro. E ao qual não deixará de referir-se num encontro semelhante que decorrerá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 12 de Maio, durante a próxima visita a Portugal.

"É importante responder ao desafio do Papa, de uma nova estação na indagação da beleza. É algo que queremos levar a sério", diz Tolentino Mendonça.

As obras irão distribuir-se ao longo dos tempos principais do ano litúrgico: o desenho de Rui Moreira ficará durante a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, durante o qual os crentes são desafiados à reflexão sobre os seus limites e incapacidades. A obra de Gabriela Albergaria (que provavelmente será uma Árvore da Vida) acompanha o tempo pós-pascal e o tempo litúrgico comum. A de Lourdes Castro, Anjo de Berlim, acompanha a preparação do Natal - nunca foi, aliás, visto em Portugal.

"Quisemos que o diálogo integrasse a própria experiência comunitária. E também que a intervenção fosse mais profunda, convocando todos os sentidos, como acontece na liturgia: o visual, o sonoro, o sabor, o tacto..."

Essa relação com uma comunidade concreta é destacada por João Madureira, um dos compositores do projecto Silêncio, apresentado em Novembro pelos Sete Lágrimas e tão bem recebido pela crítica. "O projecto da missa é mais aberto, tenho que o pensar para uma função cívica, algo comunitário, que não se destina em primeiro lugar à fruição individual."

Em relação ao projecto, João Madureira encara como desafiador o facto de se cruzarem diferentes artes: "Interessa-me perceber o que andamos a procurar nas diferentes áreas." E entende que "a dimensão espiritual presente em muita arte contemporânea deve ser acolhida".

O cruzamento com outras expressões e inspirações está presente também na obra de Rui Moreira: o título, Quando o Segundo Sol Chegar, foi Rui Moreira buscá-lo a uma música da brasileira Cássia Eller. O deserto e as cidades árabes como Fez (Marrocos) e o poema A Máquina de Emaranhar Paisagens, de Herberto Helder, onde o poeta junta excertos dos livros bíblicos do Génesis e Apocalipse, de François Villon, Dante, Camões e uma frase de sua própria autoria, são outras fontes de inspiração.

"O título dá ideia de espera, de esperança", diz o artista plástico. Não sendo crente, Rui Moreira aceitou o convite por vir de alguém como Tolentino Mendonça, que só conhecia pela poesia. "Vê-se pela poesia que, sendo membro da Igreja, é alguém aberto e à procura de qualquer coisa. E sendo alguém que quer dialogar com artistas, isso é fantástico. E eu seria preconceituoso se não aceitasse dialogar."

Rui Moreira vai buscar oAndrei Rubliov filmado por Tarkovsky, para ver "o drama do pintor e as suas contradições". Mas defende que é necessária liberdade para os artistas poderem criar como entendem. "No Renascimento, havia liberdade e muita genialidade."

Vera Cortês olha para o projecto que está a nascer como algo importante no diálogo entre cristianismo e arte: "Não é por não acreditar em Deus que não se tem uma dimensão espiritual. Existem diferentes maneiras de viver a fé e a espiritualidade e o bom é poder discutir essas coisas."

Capela de Nossa Senhora da Bonança?

Calçada Bento da Rocha Cabral, 1-B (ao Rato), Lisboa Segunda a sexta, 10h às 17h ?(tocando à porta); domingos, 12h-14h (missa às 12h30)

fevereiro 17, 2010

O jardim do Príncipe Real é uma obra de arte

In Público (17/2/2010)

Via Amigos do Príncipe Real

Por Cristina Castel-Branco


«Esperei pela obra para poder ver o "restauro", pois os elementos que a câmara disponibilizou não permitem qualquer análise profissional. Há 20 anos que sou professora de História da Arte e Restauro de Jardins e tenho experiência de dezenas de jardins históricos para os quais colaborei ou coordenei o restauro. Essas são as razões próximas da reacção que senti face aos erros a que assisti, espreitando pela rede que cerca a obra do Príncipe Real. Foi por causa de uma indignação que senti face à destruição de um jardim do séc. XVI que, em 2003, resolvi criar, com um conjunto de técnicos e proprietários de jardins, a Associação de Jardins e Sítios Históricos, a que presido. É nessa qualidade que falo. Não havendo nenhum painel explicativo e tendo a CML dificultado a informação, espreitei pela rede o jardim em obra, para poder falar:

1. Assisti a uma magnólia centenária a ser "assediada" pela pá de uma rectroescavadora... e arrepiada apercebi-me de que as árvores entraram em obra sem qualquer protecção. Do caderno de encargos não constava a protecção da vegetação?
2. As árvores foram abatidas às dezenas. É certo que fica mais barato dar uma só empreitada aos moto-serristas e madeireiros, mas não é assim que num jardim histórico se deve fazer: as árvores vão sendo substituídas gradualmente, seguindo um plano director que permita manter a sombra nos sítios originais.

3. O desenho dos caminhos desapareceu totalmente e consta dos artigos que li que vão ser alargadas as áreas de pavimento, desrespeitando o desenho inicial dos canteiros. Mas com que critério se altera o desenho de uma jardim histórico? Vi mais e pior, mas detenho-me nesta ideia de alteração do desenho de um jardim do século XIX para apontar à autoria do jardim de 1861. Na memória descritiva da obra, a autora do projecto afirma que "a sua estrutura e desenho devem-se ao seu autor, o jardineiro João Francisco da Silva". Será que assume que o Príncipe Real foi desenhado por um jardineiro, subentendendo que o jardim não tem pedigree, e que o seu traço não precisa de ser respeitado? Engana-se. Basta aceder à brilhante tese de doutoramento de Teresa Marques, da Universidade do Porto, sobre os jardins deste período para perceber que, nessa altura, a nossa profissão de arquitectos paisagistas era exercida pelos denominados "jardineiros paisagistas". Subestimar o passado de grandes obras do século XIX é também anular a origem da nossa própria profissão. Está mal.

Para defender casos como este, o Icomos, organismo consultor da UNESCO de que faço parte, criou, em 1981, a Carta de Florença, que consigna regras de restauro de jardins históricos. Portugal subscreveu, e dos 25 artigos da Carta de Florença saliento que um jardim histórico é um monumento e como tal deve ser tratado, de forma a preservar o seu significado cultural, e transmiti-lo às gerações que se seguem. A obra do Príncipe Real não respeita os princípios da Carta de Florença, senão veja-se: Artigo 14. O jardim histórico deve ser conservado num ambiente apropriado. Qualquer modificação do meio físico que faça perigar o equilíbrio ecológico deve ser proscrita. Estas medidas abrangem o conjunto das infra-estruturas internas ou externas (canalizações, sistemas de rega, estradas, caminhos, vedações, muros, poços, noras, etc.). No Príncipe Real, os passeios vão ser alargados, alegando-se razões funcionais. Por esta lógica, também deviam alargar o portal do Mosteiro dos Jerónimos: um milhão de visitantes/ano merece que as condições de entrada sejam adaptadas à "função".

No Artigo 15. Qualquer restauro de um jardim histórico só será implementado após uma análise aprofundada, que vai da escavação em terreno à recolha de todos os documentos que dizem respeito ao jardim em causa e a jardins análogos. Esta recolha exaustiva garante o carácter científico da intervenção. Antes de qualquer execução, este estudo deverá levar a um projecto de execução a submeter a um exame e a um acordo colegial. Os jardins de Lisboa, e sobretudo os históricos, deviam ter planos de longo prazo trabalhados em conjunto com a Universidade onde se estudam, experimentam e aprofundam com tempo e método os formatos de restauro, reabilitação e recuperação... Talvez ainda se vá a tempo de parar a obra e diminuir os danos. A Associação de Jardins Históricos está disponível para, de forma gratuita, propor soluções que evitem o que ainda se pode evitar e se reponha o que não devia ter sido alterado.

Presidente da Associação de Jardins e Sítios Históricos

fevereiro 03, 2010

O “não caso” do Príncipe Real

O blog já está a ser alimentado  e centrar-se-á, por enquanto, na so called "requalificação" do jardim,  sobre "a qual" aqui se reproduz o artigo publicado no Público de hoje (link não disponível).


Nenhum jardim Romântico, como o do Príncipe Real, sobreviverá à actual “requalificação” – leia-se transfiguração

No PÚBLICO de 17 de Janeiro, no suplemento Cidades, Ana Vaz Milheiro refere-se ao caso do Jardim do Príncipe Real como um “não caso”, num texto, em estilo de reportagem, que nos merece sérias reservas, tanto mais que a autora apenas ouviu uma das partes em confronto, não respeitando o consagrado princípio do contraditório.

Longe de ser um “não caso”, este processo, por exclusiva culpa da autarquia e do seu pelouro dos espaços verdes, é “o” exemplo perfeito, um caso de estudo, de como não devem ser geridas as relações com os seus munícipes.

O projecto de execução desta obra, de Janeiro de 2009, já previa o abate de 62 árvores, dez das quais no interior do jardim, independentemente do seu estado fitossanitário. A justificação dada para o abate sistemático das árvores de alinhamento – estavam todas doentes – não passou de uma demagógica tentativa de manipular a opinião pública. Na Memória Descritiva do projecto pode ler-se que o arvoredo mantém “um estado sanitário razoável na generalidade”.

Exemplos de incúria e ignorância não faltam. Basta apontar a vontade de substituir as robínias, Robinia pseudoacacia, por árvores da mesma espécie. Será que, dos projectistas às autoridades, ninguém sabe que a plantação dessa espécie infestante é proibida em Portugal? O Igespar parece não o saber ao dar parecer positivo ao projecto. Também a Autoridade Florestal Nacional (AFN), responsável pela autorização de intervenções num raio de 50 metros de árvores classificadas – e neste jardim são seis – e pelo controlo da plantação de infestantes, não emitiu até agora qualquer parecer que se conheça. Reivindicamos, desde o início, uma intervenção digna destas duas entidades reguladoras.

O acompanhamento pela AFN é essencial para a protecção das árvores classifi cadas. A movimentação de máquinas pesadas no interior do jardim, durante meses de elevada pluviosidade e saturação do solo, está a compactar as raízes do arvoredo, comprometendo o seu futuro. Estão, ainda, a ser escavados roços com um metro de profundidade junto ao tronco não protegido das figueiras classificadas, arriscando o corte das suas raízes. Tudo isto deveria ter sido acautelado.

A escolha dos lódãos, Celtis australis, como árvores de alinhamento nunca esteve no centro da polémica. Nunca questionámos esta opção, mas sim o abate indiscriminado de 49 árvores e a intenção de abater mais 13, o que queremos evitar. O desaparecimento destas árvores adultas num curto espaço de tempo teve e terá um forte impacto no ambiente do jardim e não está prevista no projecto a sua total substituição. Igualmente nos preocupa a ausência de visão de futuro: que árvores estão a ser preparadas para substituírem as actuais árvores classifi cadas daqui a 50 anos?

A petição online, de 24 de Novembro, que recolheu 2400 assinaturas, mais não pretendeu do que ser um instrumento de alerta para a defesa do jardim e exigir dos responsáveis o exercício dos direitos de informação e de participação legalmente consagrados. Não foi lançada a despeito de quaisquer esclarecimentos, nunca tornados públicos.

O perigo nela apontado da descaracterização do jardim está, infelizmente, a verifi car-se, como aconteceu no Jardim de S. Pedro de Alcântara, um dos históricos passeios públicos de Lisboa, transformado num terreiro “transparente”.

O calcetamento das áreas verdes a poente do jardim e o desprezo a que é votado o antigo pavilhão do jardineiro, em estilo revivalista do período Romântico, mantido como casa-de-banho da esplanada, apesar do “restauro exemplar” agora em curso, reforçam a descaracterização de todo este espaço. Nenhum jardim Romântico, como o do Príncipe Real, sobreviverá, como tal, à actual “requalificação” – leia-se transfiguração.

Pl`os Amigos do Príncipe Real
Jorge T. Pinto